segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Ignorância em TABLET








Dizem que os tablets substituirão os livros. As escolas anunciam “salas equipadas com tablets”. As lojas de tecnologias de material didático iniciam campanhas de lousas virtuais. Os pesquisadores não chegaram a qualquer conclusão sobre questões como as que ditam o fim próximo de uma tecnologia, substituída por outra (pintura e fotografia, teatro e cinema, etc.). Este é uma questão relevante do ponto de vista da educação. Tem-se estudado bastante que tecnologias serão substituídas por novas e até mesmo o tempo que cada tecnologia nova demora a “morrer” ou ser substituída, desde as fitas cassetes e VHS até os CDs e DVDs e destes para os arquivos digitais em HDs ou “nuvens”. O desaparecimento do livro, aparentemente inevitável a longo ou médio prazo, é um tema bastante atual e discutido.

As propagandas das escolas estão equivocadas quando esquecem que tudo isto é tecnologia a ser manipulada por uma mente. Onde está o livro ou seu conteúdo, ou ainda de que ele é feito, parece, do ponto de vista do educador, irrelevante. Continuamos na estaca zero: o essencial continua sendo ensinar a ler e interpretar; cultivar o gosto pela leitura e a responsabilidade do pesquisador.

A ingenuidade desta colocação só é comparável à dos pais, ao acreditarem que o processo de qualificação da educação passa pela simples aquisição de novas tecnologias. Os pais são leigos e têm o direito de imaginar que estão “comprando” o que tem de mais moderno no mercado. A Noruega deu um netbook para cada aluno do sistema público e os pais ainda estão insatisfeitos. A montagem de uma sala de aula na França ou Inglaterra inclui todos os recursos materiais, de mobílias especiais a jogos didáticos. Na Califórnia uma escola chega a ter orquestra sinfônica.

No entanto, todos estão insatisfeitos e identificam um declínio no nível da educação, da cultura, da moral e das capacitações necessárias para o exercício profissional. O fato é que as tecnologias “materiais” importam muito pouco. O que realmente importa são as novas tecnologias metodológicas, ou seja, compreender a epistemologia, a construção de cada conhecimento. A matemática tem uma parte concreta que responde às demandas mais imediatas da vida social e uma parte absolutamente abstrata. A geografia pode ser “vista” e em grande parte “visitada”. A história só pode ser apreendida por meio da pesquisa, da dramatização e da discussão. Em outras palavras, cada “tipo” de conhecimento demanda uma metodologia específica.

A avalanche de “informação” disponível na internet não deixa dúvidas de que a era da “decoreba” acabou. Hoje a “decoreba” perde espaço para a “pesquisa” graças à facilidade de acesso à informação gerada pela internet e demais tecnologias modernas. Mais do que nunca, é mais importante saber consultar, saber ler, interpretar e, acima de tudo, saber APLICAR os conhecimentos amplamente disponíveis pela tecnologia moderna. Os alunos precisam aprender a pensar, a buscar o conhecimento, analisar dados, sintetizar, criar e recriar. Estes mecanismos são instrumentos da inteligência e não dependem de maneira alguma da escola ter ou não um tablet. Se tiver, bom, mas o fundamental está na metodologia de apreensão do conhecimento e não dos meios tecnológicos que possam estar disponíveis.

Qualquer pessoa com bom senso sabe que os computadores, iphones, ipods, ipads, etc. são parte da vida das novas gerações. Complicado é que pais e educadores entendam que ter um iphone na mão não significa ter para quem ligar. Um computador não é útil se a pessoa não souber pesquisar ou compreender uma rede e, acima de tudo, se não tiver interesse e curiosidade para pesquisar, antes de tudo.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

UMA REDE INCONTROLÁVEL DE PERIGOS




Dra Adriana Oliveira lima
Lendo colunas de educadores e psicólogos e acompanhando programas na TV, muito se ouve sobre os limites que se devem impor às crianças, sobre o combate ao consumismo por meio de educação financeira e outros milhares de conselhos que são dados aos pais. Fico a pensar o que torna tantos conselhos inócuos? Os pais continuam tão perdidos quanto “cegos em tiroteio”. Aí penso que se Piaget tivesse dito apenas que cada idade tem uma estrutura distinta da outra e que a compreensão e a capacidade operatória variam de acordo com sua idade (cada estágio do desenvolvimento), já seria responsável por uma verdadeira revolução na educação. Ele precisa ser lido e considerado.
De que adianta uma psicóloga dizer que a criança deve ter uma mesada para aprender a lidar com o dinheiro se ela não informa de qual idade está falando? Seria aos 02 anos? Aos 07 anos? Aos 15 anos? Esta é a questão, este é o ponto vital que, se discutido, pode efetivamente ajudar os pais em suas decisões e intervenções.
Não seria muito mais produtivos para os pais se lhe explicarmos que a criança aprende efetivamente a lidar com o dinheiro nas operações concretas (7 a 12 anos), sendo este o momento propício para as primeiras semanadas (iniciar por semana devido a compreensão do tempo). Já com 9 anos a criança é capaz de incluir as classes, estando apta a fazer os desdobramentos da moeda com bastante competência. Assim, os conselheiros e educadores em geral devem focar sua contribuição em desvendar para os pais as capacidades dos filhos em cada momento de seu desenvolvimento.
Nesse nicho da idade é que entra a internet. O “facebook”, por exemplo, é uma rede, instrumento intelectual de uma criança entre 07 e 12 anos, nas suas versões mais simples. Este fato pode levar à atração da criança pela compreensão e manipulação da rede. Mas ela de forma alguma tem a maturidade emocional e experiência de vida para lidar com esta rede complexa. Não é sem razão que as redes sociais proíbem crianças. Os pais devem “ouvir” esse conselho.
Experimentei fazer uma pagina para uma criança e pude ver que, ainda que um adulto esteja ao lado da criança, se torna INCONTROLÁVEL o acesso de contatos multiplicativos das redes sociais ou mesmo de um ”youtube”. Assim, os pais devem limitar radicalmente o aceso a computadores antes dos 12 anos, ocasião em que os pais, participando junto com os filhos, podem lhes dar acesso a alguns recursos dos computadores.
Antes dos 12 anos BRINQUEM com seus filhos, CONVERSEM com seus filhos, LEIA para e com os seus filhos, JOGUEM com os seus filhos. Nunca ache “inteligente” o fato de ele sabe acessar “coisas” no computador. Nada desenvolve tanto a inteligência ou os aspectos afetivos das relações humanas como simplesmente BRINCAR COM OUTRAS CRIANÇAS.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

O PONTO FRACO DO ENSINO FORTE






O PONTO FRACO DO ENSINO FORTE
Como este assunto foi abordado sucessivas vezes por nós em diversos artigos, sugerimos a todos a leitura do artigo de capa da revista Época desta semana (01 a 07 de agosto de 2011) com o título acima, sobre o qual ressalto os seguintes tópicos:

1- O desejo de ser “invisível” não é apenas da criança citada, mas de milhares de outras crianças que gostariam de não ser vistas. Lembro-me da “Escolinha do prof. Raimundo”, onde um personagem costumava dizer: “Ah meu deus do céu, já me descobriu eu aqui”.

2- As boas colocações em vestibulares podem ter um custo muito alto, incompatível com a vida moderna. Passar no vestibular não garante sucesso profissional e ainda pode deixar marcas emocionais (medos, inseguranças e raiva).

3- Este modelo de escola do século XVIII, representada por nossa educação tradicional, supervaloriza o acúmulo de conhecimentos, embora o mesmo não tenha caráter permanente, sendo esquecido logo após o vestibular, deixando o espírito vazio.

4- Está em alta no mundo este modelo tradicional de educação porque os pais, com menos filhos e mais comprimidos em pequenos espaços, perderam a autoridade sobre seus filhos, que ficam à mercê do social, da violência e das drogas, lavando os familiares a recorrerem ao autoritarismo imposto por terceiros, no caso, a escola.

5- Os pais fazem sua opção apoiando esta escola que pressiona a criança e destrói seus processos de autonomia e de criatividade. Vemos minguar os alunos das escolas pequenas, alternativas e com metodologias mais sofisticadas, diante do crescimento da “educação de quadro e discursos”, ministrada a dezenas de crianças numa mesma sala.

6- Quando a reportagem diz que cresce no “primeiro mundo” esta visão autoritária de escola, esquece que as escolas na Inglaterra ou Estados Unidos são altamente equipadas e com professores mais bem formados academicamente. Uma sala de aula na Inglaterra não tem ponto de identidade com as salas de aula do Brasil.

7- Quando os pais escolhem as escolas em que estudaram para colocar seus filhos, isso não significa reconhecer a competência social da escola. Antes, isso representa seu próprio medo de arriscar, sua incapacidade de empreender, de diferenciar-se, de criar novidades e agregar-se à evolução social. Agarrar-se ao conhecido é um padrão comportamental e não significa uma escolha consciente.

8- As escolas que selecionam a entrada de alunos são de fato competentes porque o aluno selecionado é competente. Em 1992, em minha tese de mestrado, fiz um capítulo de pesquisa mostrando que a competência de algumas escolas não está nela, mas no aluno que a frequenta. A qualidade só é reconhecida quando se atinge padrões bons em um grupo mais amplo de alunos (não nas elites).

9- A dificuldade dos pais em conhecer e determinar o perfil de seus filhos é imensa. Basta olharmos para a total incapacidade em reconhecer dificuldades de aprendizagem. Qualquer profissional escolar sabe o quão tarde os pais procuram atendimento especializado para seus filhos. Ninguém quer aceitar ter um filho que precise de atenção especial.

10- Os sintomas, cada vez mais comuns, mostram que está se criando uma geração de crianças com medo, inseguras, assustadas e nervosas, que se sentem incompetentes. Os consultórios vão se enchendo e as pequenas escolas vão recebendo cada vez mais crianças “ditas” com dificuldades de aprendizagem.

11- Todo este sufoco no sistema tradicional não garante o sucesso e o que é pior, não garante sequer a aquisição do conhecimento. Se fizermos uma prova de conhecimentos gerais após dois anos de ensino superior, quando está consolidado o esquecimento, o fracasso seria estrondoso. Cada um dos leitores deste artigo deve se perguntar o que sabe de história, geografia, química, de orações subordinadas ou de logaritmos, e verão o quanto a escola marcou sua memória e lhe transmitiu conhecimentos ou conteúdos verdadeiramente.

12- Pessoas bem sucedidas podem vir de escolas alternativas. O que é mais comum é ter egressos deste tipo de escolas alternativas mais bem sucedido. Isto porque hoje a sociedade necessita, cada vez mais, de tomadas de decisões, empreendedorismo, versatilidade e habilidades diversificadas. O mundo moderno precisa cada vez mais de pessoas com estas características que são mais trabalhadas em pequenas escolas alternativas e totalmente esquecidas nas grandes escolas tradicionais, sempre preocupadas com conteúdos rígidos.