sexta-feira, 27 de abril de 2012

PIAGET E A NEUROCIÊNCIA - 1 Importância da estimulação dos bebês

Profª Drª Adriana Oliveira Lima




É fascinante acompanhar as pesquisas mais recentes da neurociência constatando cada vez mais uma profunda cientificidade dos estudos de Jean Piaget. Imaginar que o método por ele criado, o método clínico, como ele esperava, era capaz de desvendar processos interiores da construção do conhecimento. Este método, grosso modo, consiste na pesquisa por meio da observação exaustiva e de perguntas feitas às crianças no decurso de uma situação proposta pelo investigador. Piaget e seus auxiliares dedicaram muito tempo fazendo anotações das conversações espontâneas das crianças na “Casa dos Pequeninos”, bem como suas reações e “reflexões” diante de situações cuidadosamente propostas pelos investigadores. Por este meio desvendou muito de como se estrutura o conhecimento, fazendo avanços relevantes no campo epistemológico e contribuindo para melhoria da educação na medida em que nos oferecia um grande número de pesquisas na área da psicologia do desenvolvimento. Algumas destas pesquisas chamam nossa atenção, como, por exemplo a descoberta por meio dos tomógrafos e outros equipamentos de controle cerebral, utilizados pela neurociência, sobre a coincidência entre o lugar da motricidade e o lugar da semiótica, e a chamada “segunda chance” ou uma espécie de “reordenação” geral do cérebro na adolescência.
Estas pesquisas mostram como é precisamente da sofisticação máxima das habilidades sensório-motoras que se faz a reordenação neurônica para o aparecimento da Função Semiótica (capacidade de representar). Veja, por exemplo, que nestes estudos observou-se que um objeto apanhado com os dedos faz os cérebros de primatas mostrarem atividades enquanto se este objeto for apanhado por meio de uma pinça, não aparece qualquer atividade, o que mostra que as mediações, fonte das invenções e da semiótica NÃO são sequer percebidas pelos macacos enquanto é executado com facilidade pelo ser humano. São as cadeias de ações ritmadas em sequências indefinidas (tocar piano, por exemplo) que diferencia o sensório-motor do homem dos primatas e animais em geral. Ora, se as estruturas semióticas se colocam sobre as estruturas motoras mais sofisticadamente desenvolvidas, fica mais claro entender que a estrutura sensória motora engendra a semiótica, como afirma Piaget. Pode-se também compreender a existência de um pensamento sem linguagem, o que revoluciona as dúvidas existentes sobre esta questão. Para nós, educadores, é fundamental esta compreensão para que as estruturas sensório motoras sejam mais valorizadas por pais e educadores vez que será sobre ela que se engendrará a Função Semiótica. A pesquisa reforça a enorme valorização dada por Piaget aos dois primeiros anos de vida e o potencial de desenvolvimento da inteligência nele contido.

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