quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

HOMENAGEM AO PROF. LAURO DE OLIVEIRA LIMA FEITA PELA UECE

https://www.facebook.com/media/set/?set=a.2958501339300.76476.1764532534&type=1https://www.facebook.com/media/set/?set=a.2958501339300.76476.1764532534&type=1

O bom papel do intelectual: agitador social•

 Emocionante o depoimento do Amaral, um dos grandes amigos do meu pai,

O bom papel do intelectual: agitador social•


Roberto Amaral
 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Roberto_Amaral 
 
https://www.facebook.com/roberto.amaral.798
 
Da personalidade riquíssima, multifacetada --e muitas vezes desconcertante de Lauro Oliveira Lima-- destaco aquela característica que mais me marcou e fascinou: a do pioneiro. Emprego o termo querendo pôr em relevo seu caráter mais essencial. Designo aquele desbravador que está fora do tempo, do seu tempo, antecipando-o (como os poetas, os cientistas e os visionários), e, portanto, chocando-se, porque o novo incomoda, a dúvida incomoda e as mudanças são sempre perigosas para os inseguros.
Aliás, eis um caráter distintivo do intelectual militante: o comprometimento com a mudança, a intervenção na realidade, o desprezo pela tradição, o inconformismo com o statu quo. O intelectual pioneiro -– e estamos em face de uma quase redundância— não teme ser temerário, conquanto que jamais seja omisso.
Assim, o pioneiro, qualquer pioneiro é, por definição um gauche, uma amolação, pois sua efervescência, por si só, denuncia a pasmaceira, a renovação denuncia o comodismo, o revolucionarismo denuncia o conservadorismo. Encontro agora o ponto mais distintivo de Lauro: sem ser necessariamente um homem de esquerda ---e eu o conheci udenista--- foi sempre e é –- como educador, como escritor, como intelectual-- um anti-conservador por excelência, um demolidor da paz, da 'ordem natural das coisas', do 'estava-constituído', do statu quo. Uma onda de vento espalhando a papelada bem arrumadinha da burocracia, um redemoinho na ordem pré-estabelecida. Incomodando, portanto. Esse papel de um quase iconoclasta não deriva de boutade. Ora, ocorre que o assentado necessita da imobilidade e Lauro jamais arrefeceu diante das resistências. Eu sempre o vi abrindo caminho, forçando passagens, brigando, discutindo, reclamando, mas, acima de tudo, confiando no outro, estimulando-o, sinceramente convencido de sua missão de construtor. Construtor de homens. Este o grande mérito de sua pedagogia.
A partir de uma formação educacional-formal conservadora ---o Seminário, como quase todos os de sua classe no Limoeiro do Norte do seu tempo--- Lauro, fez-se intelectual nos embates da vida. Mas armou-se desde cedo daquela característica que separa o simplesmente erudito do verdadeiramente culto: nele a dúvida, mais que um método de pesquisa e análise, é o caminho do conhecimento que leva à intervenção. Conhecer para modificar. Ou seja, na melhor tradição daqueles intelectuais que foram beber água na fonte do Iluminismo: nada de verdades acabadas; relativizar sempre as certezas, exercer sempre a contradição, procurar o desconhecido, pôr em xeque o nosso conhecimento e as nossas idéias confrontando-as com as idéias e os conhecimentos que as negam e contradizem.
Depois de professor, foi didata; depois de didata foi pedagogo, depois de pedagogo foi pensador, repensando a educação de seu país. Começando pela cátedra (isto é, a experiência prática, fatual objetiva), para terminar na formulação. Não terá sido mero acaso, por tudo isso, que o hoje doutrinador consagrado, o autor do já clássico Escola secundária moderna tenha começado com o projeto concreto de reformulação do ensino público no Ceará e a montagem de uma escola particular. Sem nenhuma contradição.
Talvez eu incida numa heresia ao afirmar como afirmo agora que este professor jamais teve a sala de aula, no sentido da cátedra e das quatro paredes, como o seu espaço preferido de trabalho. Ao contrário, sempre privilegiou estar atrás do que estava atrás da sala, sem ocupar o proscênio: a discussão dos métodos, a discussão dos conteúdos, a discussão em torno do que dizer e como dizer, fazendo da sala de aula não apenas a máquina retransmissora de conhecimentos, mas o instrumento dialético-vivencial formador de homens e opiniões. Repito de memória -- lá se vão tantos anos que nem vale a pena contar-- o que, se me recordo bem, era o seu lema e o lema que imprimia o seu Ginásio Agapito dos Santos, onde intentou pôr à prova, como cientista que se dedica à demonstração experimental, suas teorias educativas: Non scholae sed vita discimus.
Essa inquietude fez do educador também um jornalista --outro magistério-- de combate, um cronista de seu tempo, bacamarte apontando permanentemente para o tradicional e o convencional. Ficaram famosas do público cearense --embora muitas vezes provocando mal-estares na cúpula do jornal-- as crônicas de Kleber Santos no O Povo, de Fortaleza (e quando elas serão reunidas em volume, para salvarem-se da dispersão e da vida efêmera das folhas?). O cronista trouxe à luz o crítico fino, irônico, o raciocínio arguto enluvado por uma prosa leve, saborosa mas contundente quando se tratava de ir fundo na questão. Nas mãos deste anatomista o bisturi atingia as profundezas da crítica.
Jamais conheceu o meio termo, fazendo, dizendo, agindo, ou pensando. Nunca se preocupou com o consenso, com a isenção. Se não lhe atraía provocar a malquerença, posso dizer, jamais cultivou as amizades fáceis. Optando sempre, escolhendo sempre, definindo-se sempre, exige a definição dos que o cercam; à isenção, ao distanciamento falsamente científico, responde como um apaixonado pelas coisas que faz, irradiando inimizades e paixões por onde tem passado. Por isso é um homem de poucos amigos, mas de amigos fiéis.
Essa inquietude fez de Lauro ---e é isso o que estou querendo dizer-- um político, sem jamais institucionalizar-se, ou ceder à tentação de sentar na cadeira do ‘medalhão’, ao contrário de tantos e quantos colegas de geração menos dotados de engenho e arte. Na sala de aula não fez mais que política. Sua obra é a busca de uma política de ensino. Diretor ou chefe da Seccional do Ministério da Educação no Ceará, dirigiu-a perseguindo políticas. Sua luta como Diretor do Ensino Secundário, no MEC, ao tempo de Paulo de Tarso e Darcy Ribeiro, foi dotar nosso país, de particular o ensino público, a escola pública, de uma política de ensino que visava não só à excelência da formação, como à democratização, via universalização, do acesso de todo brasileiro a esse novo ensino. Relembro a unidade universalização-excelência para garantir a democratização.
Quando quase tudo havia feito, quando quase tudo havia escrito, decidiu fazer política de corpo inteiro, candidatando-se a deputado federal pelo PSB do Ceará.
Terá sido esta experiência um fato isolado, inconseqüente? Parece-me que não. Destaca ela, ao contrário, no teórico da educação, o objetivo que sempre perseguiu, na cátedra, no cargo público, na formulação como escritor e jornalista: intervir na realidade para transformá-la. Certamente sem consciência desse papel --desconfio de que jamais leu um texto de Marx--, sua vida toda tem sido responder afirmativamente à 11ª tese contra Feuerbach: "Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo diferentemente, cabe transformá-lo".
Qual o objetivo de sua pedagogia? Mudar o mundo. Como? Mudando o homem através do conhecimento ativo, voltado para a mudança. O conhecimento, a informação, a técnica destinados a transformar a realidade, fazendo-a menos iníqua. Portanto, tinha toda a razão a direita cearense quando, ecoando no Sul, o ferrava como agitador social. Não sei se ele gostará dessa afirmação, mas estou convencido de que este foi o mais importante dos papéis que desempenhou, agitando a província pachorra, mexendo com uma elite perversa, retrógrada, atrasada, fútil, incompetente, uma classe-média amedrontada, conservadora, um clero inculto e reacionário, um proletariado incipiente controlado pelas organizações burocráticas, um mundo agrário sem vida, dominado por coronéis decadentes, povoado de camponeses famintos derrotados sem luta, pois antes do latifúndio já os mata a seca. Vida intelectual ativa quase nenhuma. Vida política cingida por partidos políticos vencidos. Imprensa provinciana presa às tetas do governo, qualquer governo, ensino público primário e secundário aviltado, universidade provinciana em formação e já perseguindo os caminhos errados que a levariam nacionalmente ao colapso de hoje.
Voltemos ao tema ‘mudar o homem’. Tenho a impressão de que todo educador alimenta esse objetivo, ainda que dele não tenha, necessariamente, consciência. Não se trata simplesmente de passar e repassar conhecimentos destinados à breve caducidade na sociedade tecnológica. Trata-se de ensinar a vida. Procuro aí uma explicação para que o schollar da escola secundária moderna se tenha voltado, piagetianamente, para o ensino de crianças, do pré-primário, com um olho nos pequenos estudantes e outros nos pais, nas famílias recalcitrantes diante de qualquer infração à rotina, ao tradicional, ao tradicionalismo. E a escola tradicional – e ela impera no Brasil, principalmente a pública, a única que enseja a presença do pobre e pode assim contribuir para a democratização— é incompetente, insatisfatória e reacionária, num processo de piora notável, que mais se agudiza quanto mais os últimos representantes da classe média correm para a escola privada. É assim que a sociedade de classes aprofunda a desigualdade de classes.
Conheci e convivi com Lauro em diversificados momentos de nossas vidas. Muito menino, no Ginásio Farias Brito, onde cursava o primário, e Lauro assumiu a direção pedagógica do estabelecimento. No seu Agapito dos Santos, onde fiz o curso ginasial, como seu aluno de latim e português. Mais tarde, na universidade, eu líder estudantil esquerdista e Lauro educador/intelectual progressista no Ceará atrasadíssimo e, logo a seguir, diretor do MEC, onde tentamos um livro em comum cujos originais, que jamais lograram conhecer os prelos, terminaram por engrossar os dossiês dos muitos inquéritos que cada um de nós por seu lado respondeu depois dos idos de março de 1964. No MEC foi alcançado pela repressão que o homenageou com a cassação dos direitos políticos e o puniu com aposentadoria compulsória e proporcional. Que melhor reconhecimento quereria ele do acerto de sua obra? A terceira ou segunda fase de nossa convivência se deu nos anos de chumbo. Quase-clandestino e quase-exilado dentro de meu país, a caminho de um exílio no exterior que os fados decidiram frustrar, fui reencontrá-lo no Rio, saída obrigatória, na dura tarefa de assegurar a própria sobrevivência sua e de sua família. Aí emergiu um outro lado de seu caráter pessoalíssimo: o amigo generoso.
O meu reconhecimento pelo seu significado tentei, com lucro, demonstrar da única forma que me pareceu objetiva. Entregando-lhe, na Escola piagetiana que montaria no Rio, a educação (formação) de meus três filhos. Que me ficaram gratos.
(1996)

sábado, 23 de fevereiro de 2013

VAMOS CUIDAR DA ESCOLA PÚBLICA


O privado, o público e o papel do ESTADO. 
Ora de aprender sobre democracia.
Dra. Adriana Oliveira Lima 


 


                       O final de um ano e o começo de outro é amargo para a educação. Os telejornais colocam o IPVA, o IPTU e as escolas no mesmo saco do abuso e do roubo, induzindo as famílias à tristeza ao despedirem-se de seus recursos natalinos em pagamentos amedrontadores. Um consultor, numa TV fechada, diz após o jornalista listar as contas de começo do ano (“IPTU, IPVA, Matricula de escola, material escolar...”), a seguinte frase: “sabendo que tem que pagar esta porcariada toda.” O anúncio de um banco propõe o parcelamento para por fim a esse “pesadelo” – e, pasmem, a escola é um deles!
                A questão histórica da educação não foi a destruição da escola privada, mas a construção de uma escola pública de qualidade. Nem sei se isso é possível, mas como educadora, jamais vi uma reação tão histérica contra a escola privada. Democracia significa a coexistência do privado e do público. Se tudo for público, o regime político tem outro nome, são as ditaduras.
                A Histeria pelo igualitarismo tem se tornado uma doença nos dias de hoje. Numa rede social alguém denuncia um assalto a um carro e é seguida por um comentário que pergunta qual era a marca do carro e ainda diz que a culpa é dos ricos, por terem carros de luxo enquanto outros passam fome...
                A escola privada está sujeita aos mercados e vale por sua capacidade de colocarem-se socialmente. Neste sentido, os tubarões são grandes e a luta é árdua. Quando o governo despende tanta energia em função da escola privada fico me perguntando que lógica é esta. A regulamentação não pode ultrapassar os currículos e programas e as condições de legalização. Daí para frente, que se submetam às ondas do mercado. O Estado deve cuidar das coisas do Estado, que já são muitas!
                É tanta regulamentação e agressão, que a escola privada parece ser empurrada para ser “pública” o que vale dizer, tornar-se medíocre. Que diabos de gana é essa sobre um mercado não-prioritário para os governos e que por si só se regularia?
                Existe muito que fazer no sistema público para se conseguir oferecer uma escola de qualidade como alguns países conseguiram (e são poucos, diga-se de passagem). Quando o governo sai histericamente regulamentando e enquanto os “consumidores” tratam a escola como um produto, o que conseguiremos obter mais rapidamente é a mediocrização da escola privada. Teremos, então, uma fabulosa igualdade, um nivelamento por baixo, fazendo o que pode produzir mais, produzir menos, para nos tornar uma imensa massa amorfa de baixa qualidade.
Não existe escola sem dinheiro. Não se produz conhecimento sem recurso, o que se produz na miséria é alternativa de sobrevivência. O material precisa ser tridimensional, precisa de cor; precisamos papel, tesouras... Precisamos muitas coisas.
                Sabem os consumidores o que ocorre sob a égide do estado policial? Um Estado que sai legislando sobre o privado para aplacar sua culpa de não oferecer um serviço com competência (a boa escola) acaba por legislar sobre o que não é de sua competência. Como não existe qualidade sem dinheiro, as escolas vão abandonando as práticas educativas. Tem escola onde a criança pinta com tinta apenas uma vez ao ano!!!! Tem escola que nem compra mais massa de modelar.
                Mínguam os recursos, míngua a pedagogia, míngua educação. Sem poder cobrar de seus clientes por conta da regulamentação excessiva do estado (como, por exemplo, a absurda proteção aos maus pagadores - inadimplência), a escola acaba com menos recursos pedagógicos e isso se traduz em menos materiais pedagógicos a serem utilizados pelas crianças. 

VAMOS CUIDAR  DA QUALIDADE DA ESCOLA PÚBLICA, ISTO É URGENTE!!!!!!


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

ESCOLA NÃO É COMÉRCIO

Adriana Oliveira Lima
Às vezes somos tomados pelo desânimo acerca dos destinos da educação. Não sabemos o que fazer diante de tamanha tarefa. O Brasil tem várias redes paralelas de educação. Uma delas, as chamadas pequenas escolas, constituem o principal lugar da formação do saber pedagógico. As grandes ideias e a produção dos mais competentes materiais pedagógicos têm sua origem e formação nessas escolas. Maria Montessori, Freinet, Makarenko, Claparéde, Vygotsky e Pestalozzi, entre outros tantos, tiveram seus trabalhos desenvolvidos em pequenas instituições - “laboratórios” educacionais sofisticados. São estes educadores que produziram conhecimentos e materiais educacionais que se constituíram como referência até os nossos dias.
Historicamente essas escolas organizaram-se como produtoras de conhecimento.  Elas foram líderes nas concepções pedagógicas. Entretanto, vivemos hoje uma realidade distinta: pais que procuram a educação como um “produto” e optam pelas escolas-hospitais (escolas muito limpas, esterilizadas e competentes no ato de banhar e alimentar crianças). Buscam ainda escolas gigantescas, com mega estruturas, sem sequer perguntar que uso seu filho efetivamente fará destes recursos megalômanos. Os pais quase não buscam mais as metodologias, não diferenciam discursos e acreditam comprar o produto educação (incluindo as pessoas que regem as escolas).
 

A relação com a escola passa a ser de consumidor e produto, inviabilizando os processos pedagógicos. Os pais querem determinar o que estão comprando. Sendo um produto, a escola deixa de ser um investimento. Os pais deixam de ser aliados importantes da escola, parceiros nos destinos da educação dos filhos, para serem cobradores, ou quase inimigos. A sociedade e os meios de comunicação fortalecem esta agressividade na relação família-escola. Os bons processos educativos surgem e gestam-se no amor e na amizade entre as famílias e a escola. Não se compra dedicação e amor.